🌍 Exportações de carne de frango: Brasil reconquista espaço no mercado global
Por Carlos Santos
Mais sete países retiram restrições à carne de aves brasileira após surto de gripe aviária. O que isso revela sobre nossa força sanitária, nossa diplomacia e os desafios ainda em aberto?
✍️ Introdução
Em meio a um cenário internacional de vigilância sanitária rigorosa e acirrada disputa por mercados, o Brasil dá um passo importante ao retomar a confiança de sete países na exportação de carne de frango. A decisão dessas nações de suspender as restrições impostas após o surto de gripe aviária no Rio Grande do Sul marca não apenas uma recuperação comercial, mas também uma demonstração de eficiência no controle de crises sanitárias. Neste post, analisamos os bastidores dessa retomada, seus impactos econômicos, geopolíticos e sociais — e o que ainda está em jogo.
🔍 Zoom na realidade
Entenda o que aconteceu e por que isso é relevante para o Brasil
No final de maio de 2025, um foco de Influenza Aviária de Alta Patogenicidade (IAAP) foi identificado em uma granja de postura em Montenegro, no Rio Grande do Sul. A detecção imediata do vírus, somada às ações de contenção, fez com que 49 países passassem a impor algum tipo de restrição à importação de carne de aves brasileira.
Apesar disso, o Brasil conseguiu demonstrar rapidamente sua capacidade de resposta. Agora, mais sete países decidiram retirar as barreiras às exportações brasileiras: Argentina, Cuba, Emirados Árabes Unidos, Filipinas, Índia, Mauritânia e Uruguai.
Essa reversão gradativa do cenário, segundo nota oficial do Ministério da Agricultura, decorre do “cumprimento rigoroso dos protocolos sanitários internacionais”, o que inclui a aplicação do vazio sanitário, a eliminação dos animais infectados e a comunicação contínua com a Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA).
📊 Panorama em números
Indicador | Antes do Surto | Durante o Surto | Pós-restrições |
---|---|---|---|
Países com restrições | 0 | 49 | 36 |
Exportações de frango (toneladas) | 435 mil | 320 mil | Estimativa de 410 mil |
Preço médio por tonelada (US$) | 2.200 | 2.050 | 2.170 |
Tempo médio de resposta sanitária | - | Menos de 15 dias | Controle mantido |
💬 O que dizem por aí
Para o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, o resultado demonstra a força institucional e técnica do Brasil no controle de zoonoses. Em declaração publicada por diversos veículos, ele afirmou:
“O Brasil respondeu de forma transparente, célere e coordenada. Nossa estrutura de defesa agropecuária está entre as mais respeitadas do mundo.”
Especialistas em comércio internacional também avaliam positivamente a rápida reversão. Segundo a professora e analista Renata Campos, da Fundação Getulio Vargas,
“A diplomacia sanitária do Brasil tem amadurecido. A regionalização do risco é uma estratégia inteligente para não paralisar exportações em todo o território.”
Por outro lado, representantes do setor agroindustrial pedem mais investimentos em tecnologia de rastreabilidade, vigilância ativa e comunicação de risco — justamente para evitar que eventos localizados tenham repercussões globais.
🧭 Caminhos possíveis
Mesmo com a reabertura de mercados, ainda há entraves importantes. Países como Japão, União Europeia e China mantêm restrições — em alguns casos, regionais; em outros, totais.
A depender da abordagem adotada pelo Brasil nas próximas semanas, será possível:
-
Negociar regionalização de risco com base científica, limitando embargos apenas às áreas afetadas;
-
Fortalecer laços diplomáticos com parceiros estratégicos, aproveitando a experiência recente como prova de capacidade;
-
Implementar sistemas integrados de prevenção, como alertas precoces e inteligência sanitária;
-
Ampliar seguros agrícolas para proteger o pequeno produtor, que ainda sofre diretamente com quedas bruscas na demanda.
A atuação coordenada entre MAPA, produtores, frigoríficos e órgãos internacionais será determinante para consolidar um ambiente de estabilidade e confiança.
🧠 Para pensar…
Este episódio recente da gripe aviária, apesar de causar perdas iniciais, também deixa lições valiosas:
-
A confiança internacional não se mantém apenas com discursos, mas com ações técnicas auditáveis.
-
O Brasil, mesmo sendo potência exportadora, precisa investir em ciência, transparência e comunicação para manter sua posição.
-
A geopolítica alimentar é cada vez mais influenciada por critérios sanitários — o que exige preparo técnico, diplomático e estratégico.
📚 Ponto de partida
Como o Brasil chegou a este nível de protagonismo no setor avícola?
Não é de hoje que o Brasil ocupa o topo do ranking de exportadores de carne de frango. Com tecnologia avançada em genética, nutrição e manejo, o país se destaca por:
-
Clima favorável e produção em larga escala;
-
Frigoríficos com alto grau de automação e controle;
-
Mão de obra especializada e programas sanitários sólidos;
-
Diversificação de mercados (mais de 150 países compradores).
Esse histórico contribuiu para que, mesmo em momentos de crise, houvesse credibilidade acumulada que agora se transforma em retomada comercial.
🗺️ Daqui pra onde?
A reabertura desses sete mercados é um bom sinal. Mas é apenas parte de um desafio maior: garantir que o Brasil continue competitivo e confiável no longo prazo. Isso implica:
-
Educação sanitária de ponta para toda a cadeia;
-
Atualização contínua dos protocolos de biosseguridade;
-
Abertura de mercados com base em acordos preventivos, e não apenas reativos.
O país precisa sair do ciclo de reação e assumir postura proativa, antecipando crises, gerindo riscos com transparência e cultivando confiança com base na ciência.
⚓ Âncora do conhecimento
Quer entender como o cenário político internacional pode influenciar diretamente decisões comerciais e sanitárias no Brasil? Em nosso post anterior, analisamos em profundidade o avanço do projeto conhecido como One Big Beautiful Bill no Senado norte-americano — uma proposta que, embora aparentemente distante, tem implicações diretas sobre a diplomacia, o comércio exterior e a soberania alimentar dos países em desenvolvimento.
🌐 Se o mundo está redesenhando suas regras, o Brasil precisa estar pronto para jogar com estratégia.
📌 Clique aqui e leia agora para ampliar sua compreensão sobre os bastidores dessa articulação e como ela pode afetar o futuro das nossas exportações e políticas públicas.
✍️ Opinião do autor
A forma como o Brasil conduziu a contenção da gripe aviária é digna de nota. Mas não se trata apenas de celebrar a retomada de exportações. Trata-se de refletir: por que ainda somos vulneráveis a embargos generalizados por casos isolados? O modelo de regionalização do risco é justo, moderno e alinhado às recomendações da OMSA. O Brasil precisa defender esse modelo com firmeza.
A diplomacia sanitária se tornará cada vez mais relevante no comércio global. Estamos preparados para esse novo jogo? Se não investirmos agora, pagaremos caro depois — não apenas em cifras, mas em reputação.
📦 Box informativo 📚 Você sabia?
-
O Brasil é o maior exportador mundial de carne de frango, à frente dos Estados Unidos e da União Europeia.
-
O surto de IAAP em Montenegro foi o primeiro registrado em granja comercial no Brasil, o que exigiu resposta imediata.
-
O conceito de regionalização do risco sanitário permite que só a área afetada seja embargada, evitando sanções ao país inteiro.
-
Desde 2020, o Brasil ampliou de forma significativa o uso de inteligência epidemiológica no setor avícola.
-
A carne de frango representa cerca de US$ 9 bilhões anuais na balança comercial brasileira.
Postar um comentário