📉 Selic a 18%? Juros ainda não estão em um nível extraordinário, diz Fabio Kanczuk
Por Carlos Santos
🌎 Introdução
A discussão sobre o papel da Taxa Selic no controle da inflação no Brasil ganhou novos contornos com a declaração de Fabio Kanczuk, ex-diretor de política econômica do Banco Central e atual gestor do ASA Investments. Em entrevista ao Money Times, Kanczuk defendeu que os juros no país, mesmo em patamar elevado (atualmente em 10,50%), ainda não estão em um nível "extraordinário" capaz de conter de forma definitiva a inflação. Para ele, o ajuste ideal poderia passar por uma Selic de 18% ao ano.
Essa declaração, que parece radical à primeira vista, abre espaço para uma série de reflexões sobre a eficiência da política monetária brasileira, os limites práticos da atuação do Banco Central, e os impactos socioeconômicos de uma taxa de juros ainda mais restritiva.
🔍 Zoom na realidade
Vamos entender os principais pontos abordados por Fabio Kanczuk:
Selic atual (10,50%) é considerada alta, mas não suficiente para garantir a convergência da inflação à meta (3%).
Ele estima que a taxa ideal para ancoragem da expectativa seria de cerca de 18%, algo que causaria um impacto mais forte na curva de juros e nas projeções inflacionárias.
Reconhece que manter juros elevados por muito tempo é politicamente e economicamente inviável, mas acredita que uma ação rápida e forte teria efeitos mais contundentes.
Afirma que o Banco Central perdeu parte de sua convicção, ao ceder a pressões políticas e não manter um discurso firme em prol do controle inflacionário.
As ideias de Kanczuk dialogam com um sentimento crescente de que a inflação brasileira, embora tecnicamente controlada, não está totalmente ancorada. As expectativas para os próximos anos seguem descoladas da meta, e o mercado ainda demonstra desconfiança quanto à capacidade do BC em conduzir a política monetária com independência plena.
📊 Panorama em números
Indicador | Valor | Comentário |
---|---|---|
Selic atual | 10,50% | Política monetária ainda considerada moderada |
Juros reais | ~6,5% a 7% | Altos, mas abaixo do que Kanczuk considera ideal |
Meta de inflação | 3,0% | Com intervalo de tolerância de ±1,5 p.p. |
Expectativas do mercado (IPCA) | 3,8% em 2025 | Acima da meta |
Nível sugerido por Kanczuk | 18,00% | Taxa que ancoraria expectativas rapidamente |
Duração sugerida | Curto prazo (6-12 meses) | Para evitar dano prolongado à atividade |
💬 O que dizem por aí
As opiniões de Fabio Kanczuk provocaram reções diversas no mercado e na comunidade econômica:
Economistas ortodoxos elogiaram a coragem da proposta e o foco em ancoragem de expectativas. Apontam que a inflação não recua apenas com juros medianos, mas com credibilidade.
Analistas mais pragmáticos consideram a ideia impraticável. Um aumento abrupto para 18% traria choque no crédito, recessão e desemprego.
Setor produtivo teme os efeitos adversos de juros elevados: retração do consumo, dificuldade de acesso a financiamentos, paralisia de investimentos.
Kanczuk parece antecipar essas críticas ao destacar que a subida seria feita com sinais claros e temporários, com foco na comunicação como ferramenta de política monetária.
🧭 Caminhos possíveis
A declaração de Kanczuk levanta a questão: o que fazer para controlar a inflação sem comprometer a atividade econômica?
1. Elevação rápida e temporária da Selic
Subida até 18%, com duração limitada (6-12 meses);
Choque de credibilidade;
Forte impacto sobre expectativas e curva de juros futura.
2. Manutenção gradual, com comunicação firme
Selic estável em 10,50% ou com cortes controlados;
Fortalecer discurso do BC como defensor da meta de inflação;
Reduzir ruídos políticos.
3. Combinação de fiscal + monetária
Contenção de gastos públicos para aliviar pressão inflacionária;
Ajustes fiscais que permitam Selic mais estável;
Reforço da responsabilidade interinstitucional.
🧠 Para pensar...
“É melhor um remédio amargo e eficaz do que anos de instabilidade e desconfiança inflacionária?”
A fala de Kanczuk nos obriga a refletir sobre o papel da coragem nas decisões de política econômica. E se o caminho mais difícil for o mais necessário?
📚 Ponto de partida
Money Times: entrevista com Fabio Kanczuk.
Relatórios Focus do Banco Central.
Ata da última reunião do Copom.
Cálculos da curva de juros futuros (B3).
Estimativas da MB Associados e XP Investimentos.
📦 Box informativo
📚 Você sabia?
A Selic é a taxa básica de juros da economia brasileira. Ela influencia todas as outras taxas: de empréstimos, financiamentos, poupança e crédito. Seu principal objetivo é controlar a inflação. Quando está alta, desestimula o consumo e reduz a pressão sobre os preços.
🌎 Daqui pra onde?
A proposta de uma Selic a 18% pode parecer um exagero, mas revela um ponto central: o combate à inflação requer coragem, foco e comunicação eficaz. O Brasil precisa decidir se vai manter uma estratégia de contenção morna ou partir para um posicionamento mais incisivo.
Mais do que apenas um número, a taxa de juros reflete a credibilidade de um país. E essa é uma moeda que, quando perdida, custa muito a ser recuperada.
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