Como funcionam os royalties em franquias, por que são essenciais para a rede e a importância da transparência na COF. Análise crítica e dados de mercado.
Royalties em Franquias: Como Funcionam, Por Que São Cruciais e o Preço da Marca Forte
Por: Carlos Santos
Quando mergulhamos no complexo universo do franchising, uma palavra ressoa com frequência e carrega um peso significativo: royalties. Para muitos empreendedores, essa taxa é vista apenas como um custo. Para mim, Carlos Santos, após anos observando o mercado e destrinchando contratos, percebo que os royalties são a própria espinha dorsal da sustentabilidade de uma rede de franquias e um termômetro da força da marca. Eles representam o pagamento contínuo pelo uso da marca, o know-how testado e o suporte operacional que, sejamos francos, é o que justifica o investimento inicial e o trabalho duro do franqueado. Ignorar ou subestimar sua função é um erro crasso.
O Pagamento da Parceria: Entendendo o Conceito de Royalties
O royalty, no contexto do franchising, é essencialmente uma remuneração periódica que o franqueado paga ao franqueador. Este valor é a contrapartida pelo direito contínuo de explorar o negócio com a marca, os sistemas, as tecnologias, os processos e a propriedade intelectual da franqueadora. Não se trata de uma taxa aleatória, mas sim do preço pelo acesso a um modelo de negócio já validado, com menos riscos do que começar do zero. A Lei de Franquia (Lei ) estabelece a clareza sobre essas cobranças, exigindo que todos os detalhes sejam especificados na Circular de Oferta de Franquia (COF), reforçando a importância da transparência desde o início da relação.
🔍 Zoom na realidade
Na prática, a forma como os royalties são calculados e cobrados varia drasticamente entre as redes. É aí que reside um dos pontos mais críticos e, por vezes, mais conflituosos da relação. No Brasil, observamos três modelos predominantes:
Percentual sobre o Faturamento Bruto: Este é, sem dúvida, o modelo mais comum. O franqueado repassa uma porcentagem fixa de suas vendas brutas (antes da dedução de impostos) para o franqueador. As taxas variam enormemente, podendo ir de
a
ou até mais, dependendo do segmento e da margem de lucro. A vantagem para o franqueador é que, quanto mais o franqueado vende, mais ele recebe, alinhando (teoricamente) os interesses. O ponto de fricção é que o faturamento bruto não reflete a saúde financeira real do negócio, o que pode apertar a margem do franqueado em períodos de baixa lucratividade.
Valor Fixo Mensal (Flat Fee): O franqueado paga um montante fixo todos os meses, independentemente de seu faturamento. Este modelo é mais comum em franquias de serviços com faturamento mais estável ou naquelas em que o controle do faturamento é mais complexo. A vantagem é a previsibilidade de custos para o franqueado e a estabilidade de receita para o franqueador. O risco é que, se o franqueado tiver um faturamento muito alto, a franqueadora pode sentir que está recebendo menos do que o justo pela performance da marca.
Híbrido: Uma combinação dos dois anteriores: uma taxa mínima fixa mais um percentual sobre o faturamento que exceder um determinado patamar. Este modelo tenta balancear a previsibilidade com a participação no crescimento.
É crucial entender que esse dinheiro financia o coração operacional da franqueadora: desenvolvimento de produtos, inovação de processos, auditoria de qualidade, treinamento contínuo e, o mais importante, a proteção e o fortalecimento da marca. Claudio Forner, um nome de peso no franchising nacional, frequentemente argumenta que "o royalty é o preço da segurança e da permanência no mercado." Se o franqueado vê o royalty apenas como um custo, ele não está comprando uma franquia, mas apenas um nome, e isso é um erro conceitual grave. A realidade é que o sucesso da rede é o que garante o sucesso de cada unidade, e esse ecossistema é mantido pelos royalties.
📊 Panorama em números
Analisar os royalties em números revela a disparidade e a lógica por trás de cada modelo de negócio. No Brasil, o panorama, conforme dados da Associação Brasileira de Franchising (ABF) e estudos de consultorias especializadas (como a Cherto Consultoria), mostra:
Serviços e Educação: As taxas de royalties costumam ser um pouco mais altas, variando entre
e
do faturamento bruto, em função da forte dependência do know-how e dos materiais didáticos/metodológicos.
Alimentação (Food Service): É um setor onde a concorrência é acirrada e o controle de insumos é vital. As taxas giram em torno de
a
, sendo a taxa de fundo de propaganda (marketing) muitas vezes cobrada à parte (cerca de
a
). Observe a importância do Fundo de Marketing (ou Fundo de Propaganda); ele não é royalty, mas é uma taxa irmã, crucial para a saúde da marca.
Varejo de Moda e Acessórios: Varia bastante, mas a média fica entre
e
. Aqui, a rapidez na mudança de coleções e a força da marca no mercado consumidor são o maior valor agregado, o que justifica a taxa.
Em um cenário hipotético, se uma unidade franqueada de alimentação fatura R$ em um mês, com um royalty de
, o franqueado repassará R$
. Se houver um Fundo de Marketing de
, serão mais R$
. Isso totaliza R$
que saem do faturamento bruto. É um montante significativo que exige uma gestão financeira rigorosa por parte do franqueado para garantir que o lucro líquido seja mantido.
A crítica que frequentemente ouço é sobre a cobrança sobre o faturamento bruto. Economistas e consultores, como Ana Leão, apontam que essa metodologia pode ser injusta quando o franqueado, por questões alheias (como aumento de custos de insumos ou aluguel), tem sua margem de lucro drasticamente reduzida, mas a obrigação de royalties permanece alta. Há um movimento sutil, mas crescente, em algumas redes mais inovadoras, de atrelar a cobrança a indicadores de performance (KPIs) ou a faixas de faturamento que estimulem o crescimento, premiando a eficiência, o que torna a relação mais justa e transparente.
💬 O que dizem por aí
O debate sobre royalties é intenso nas rodas de empresários e nos fóruns de discussão. A visão se divide majoritariamente em dois campos: os que veem o valor e os que sentem o peso.
O Franqueador (a voz da central): A franqueadora defende que o royalty é a garantia da perenidade do negócio. "Sem o royalty, não há investimento em tecnologia, não há auditoria de qualidade, não há defesa da marca contra concorrência desleal ou má gestão de outras unidades. É o oxigênio que mantém o motor da rede funcionando," argumenta o CEO de uma grande rede de varejo, frequentemente citado em eventos de franchising. Para eles, a taxa sustenta a equipe de suporte, o setor de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) e o back-office necessário para que o franqueado foque apenas na operação.
O Franqueado (a voz da ponta): Aqui, a visão é mais pragmática e, por vezes, mais crítica. Franqueados de longa data, como Marcos Oliveira, dono de três unidades de uma rede de serviços, costumam dizer: "O royalty só é 'caro' quando o suporte é 'barato'." Ou seja, a reclamação não é sobre o valor em si, mas sobre a qualidade da contrapartida. Se o franqueador não oferece treinamento atualizado, se os sistemas são arcaicos, ou se a marca não investe em inovação e marketing institucional robusto, a taxa de royalty passa a ser vista como um "imposto sobre o faturamento" e não como um investimento. A insatisfação surge quando a rede estagna, mas a cobrança se mantém rigorosa. O ponto crucial é a entrega de valor contínuo.
Essa dicotomia é saudável, pois força as franqueadoras a se manterem relevantes. A crítica popular, porém, muitas vezes ignora a estrutura de custo oculta que a franqueadora sustenta: advogados, consultores, softwares de gestão caríssimos, e anos de pesquisa para refinar o modelo de negócio que está sendo "alugado" por uma taxa periódica.
🧭 Caminhos possíveis
Para que a relação de franchising prospere, é imperativo que o franqueador e o franqueado busquem caminhos de otimização e transparência no que tange aos royalties.
Para o Franqueado: Domínio e Negociação
Auditoria do Valor: O franqueado deve entender exatamente no que o seu royalty está sendo investido. É fundamental exigir relatórios de performance e investimento por parte da franqueadora (se disponíveis e contratualmente previstos). Se a franqueadora está investindo em tecnologia que reduz o custo operacional ou atrai mais clientes, o royalty está valendo a pena.
Gestão do Custo Variável: Como os royalties são, na maioria dos casos, um custo variável atrelado à receita, o franqueado deve ter uma gestão de custos fixos impecável. Uma margem de lucro apertada potencializa a dor do royalty. Se o seu aluguel ou custo de pessoal está alto, o percentual de royalties se torna um fardo mais pesado.
Análise da COF: Antes de assinar, o futuro franqueado, seguindo a recomendação de consultores, deve simular o impacto dos royalties em diferentes cenários de faturamento (otimista, realista e pessimista) para ter certeza de que o modelo é viável.
Para o Franqueador: Inovação na Cobrança e Entrega de Valor
Royalty de Performance (Performance-Based Royalty): Um caminho é atrelar a taxa a KPIs de rentabilidade, e não apenas ao faturamento. Isso alinha o interesse genuíno: a franqueadora só ganha mais se o franqueado lucra mais.
Escalonamento da Taxa: Oferecer uma taxa de royalty decrescente à medida que o franqueado atinge metas de faturamento muito altas (e difíceis) pode ser um poderoso incentivo de crescimento. Isso sinaliza que a franqueadora é parceira no sucesso de longo prazo, e não apenas uma cobradora.
Transparência e Prestação de Contas: É vital comunicar onde o dinheiro do royalty está sendo aplicado. Mostrar relatórios de P&D, inovação tecnológica e suporte de campo de forma clara transforma a cobrança de um "custo" em um "serviço essencial".
A adoção de modelos mais sofisticados, como os royalties atrelados ao Lucro Operacional Bruto (LOB), apesar de mais complexa em termos de auditoria, é um horizonte mais justo, pois reflete a real capacidade de pagamento do franqueado, conforme defendido por especialistas em finanças de franquias.
🧠 Para pensar…
A franquia é vendida como um atalho para o sucesso, uma redução de risco, mas esse atalho tem um pedágio: os royalties. A grande questão filosófica e financeira que nos confronta é: qual é o real valor de uma marca?
Se você monta uma loja própria, você economiza os a
de royalties, mas gasta
do seu tempo e dinheiro para:
Desenvolver o produto e testar o mercado.
Criar um manual de operação, marketing e vendas.
Construir o reconhecimento de marca "do zero".
Fazer todo o back-office de gestão de fornecedores e inovação.
O royalty, nesse sentido, é o pagamento pela experiência acumulada e pela mitigação de riscos. A franqueadora já "quebrou a cara" e errou o suficiente para entregar um modelo refinado. O erro do franqueado não é pagar, mas sim não exigir o valor compatível com o que paga.
O empreendedor precisa parar de ver o franqueador como um "sócio que só cobra" e começar a vê-lo como um prestador de serviços estratégicos que deve ser continuamente avaliado. Se o royalty for R$ por mês, o franqueado tem o direito de se perguntar: "O que o franqueador fez este mês que me gerou R$
de valor ou me economizou o equivalente?" É uma análise fria, mas necessária. O custo-benefício é a única métrica que importa.
Peter Drucker, o guru da administração, ensinou que "a única fonte de lucro é a atividade do cliente que compra." No franchising, o royalty é o pagamento pelo direito de se beneficiar da marca que atrai esse cliente. Se a marca enfraquece, o royalty se torna indefensável. O compromisso do franqueador com a inovação constante é, portanto, a única justificativa de longo prazo para a cobrança.
📈 Movimentos do Agora
O mercado de franchising, como qualquer outro, não é estático. As tendências atuais estão forçando uma revisão na forma de cobrar e justificar os royalties.
1. Digitalização e Tecnologia na Justificativa
O suporte tecnológico se tornou o principal argumento para a cobrança de royalties. Redes que investem em sistemas de gestão (ERPs) integrados, aplicativos de relacionamento com o cliente (CRMs), plataformas de e-commerce centralizadas e, crucialmente, Inteligência Artificial (IA) para análise de dados de vendas e estoque, têm maior facilidade em justificar a taxa. A franqueadora, ao entregar uma solução tecnológica que aumenta a eficiência do franqueado e reduz o custo operacional (por exemplo, otimização de rotas de entrega ou previsão de demanda), transforma o royalty em um investimento em produtividade.
2. A Ascensão do Low-Cost e o Royalty Fixo
Com o crescimento das microfranquias e modelos de low-cost, o modelo de royalty fixo (flat fee) tem ganhado força. Para franquias digitais ou de serviços com baixo investimento inicial, a previsibilidade de um valor fixo facilita o controle de caixa do empreendedor iniciante. Esse movimento, embora simplifique a gestão, exige que o franqueador compense o menor valor de royalty com um grande volume de unidades, focando em escalabilidade.
3. A Crise da Confiança e a Auditoria de Receita
Em tempos de crise econômica ou instabilidade, a transparência na cobrança se torna um ponto de tensão. Observamos um aumento na auditoria de receitas (mecanismos de controle e monitoramento de vendas) para garantir que o faturamento reportado pelo franqueado seja o real, protegendo o franqueador. Em contrapartida, os franqueados exigem mais transparência no uso dos recursos de marketing e suporte. O movimento do "agora" é em direção a mais dados, mais clareza e menos subjetividade na relação financeira.
🗣️ Um bate-papo na praça à tarde
A tarde estava quente, e o Seu João, a Dona Rita e o jovem Mateus estavam na praça, tomando um café e conversando sobre a vida de quem tem seu próprio negócio.
Seu João (Aposentado, ajudou o filho a montar uma franquia de açaí): "Eu falo pro meu menino, Mateus, que esse tal de royalti é um custo fixo disfarçado. Vende, não vende, o bicho vem e come uma parte grande da receita. É um imposto que a gente paga pra usar o nome dos outros. Fico pensando se não era melhor ter botado um nome na loja do jeito dele, sabe?"
Dona Rita (Dona de uma pequena loja de roupas que não é franquia): "Ah, João, mas também não é bem assim, né? Eu não sou franquia e te digo: a gente gasta um dinheirão fazendo propaganda na internet, correndo atrás de fornecedor, tentando adivinhar o que a freguesia quer. O seu filho não se preocupa com a receita do açaí, com o copinho, com nada disso! Isso é o que ele tá pagando. Eu já passei por tanto perrengue de produto ruim que, no fim, a segurança de marca tem valor."
Mateus (Jovem empreendedor, pensando em abrir uma franquia de serviço): "É, Seu João. A gente paga pra ter a cola do negócio, o passo a passo. Eu li no Diário do Carlos Santos que a gente tem que ver se o dinheiro volta em serviço de qualidade. Eu tô pensando em pegar uma franquia de limpeza, e o que eu mais quero é o sistema deles de agendamento e o treinamento de equipe. Se isso for bom e trouxer cliente, eu pago o royalty de boa. O problema é pagar e não ter nada em troca, né?"
Seu João: "Exato, Mateus! Se eles dão um suporte decente, ok. Mas se a gente tem que se virar, aí vira só garganta na hora de assinar o papel."
🌐 Tendências que moldam o amanhã
O futuro dos royalties no franchising passa inevitavelmente por uma reengenharia do modelo de valor.
1. Royalty como Serviço (RaaS - Royalty as a Service)
A tendência mais forte é a quebra do royalty em diferentes componentes de valor, transformando-o em um modelo de subscrição de serviços. Em vez de uma única taxa sobre o faturamento, o franqueado poderia pagar por pacotes de serviços:
Taxa de Tecnologia e Dados: Paga pelo uso de software, IA e análise de Big Data.
Taxa de Inovação e P&D: Paga pelo desenvolvimento de novos produtos e serviços.
Taxa de Suporte e Auditoria: Paga pelo suporte de campo, treinamento e auditorias de qualidade.
Essa modularização do royalty, embora complexa, permite ao franqueado visualizar onde seu dinheiro está sendo investido e oferece à franqueadora a possibilidade de justificar cada centavo com entregas específicas. O foco é na personalização do suporte.
2. Contratos de Longo Prazo e Taxas Decrescentes
Em um movimento que busca reter franqueados de sucesso, algumas redes estão oferecendo planos de longo prazo com taxas de royalty progressivamente decrescentes. Exemplo: nos primeiros 5 anos,
nos 5 anos seguintes e
a partir do 11º ano. Isso incentiva o franqueado a investir a longo prazo e recompensa a fidelidade e a estabilidade da unidade.
3. A Força da ESG e o Royalty Social
Uma tendência emergente, impulsionada pela preocupação com ESG (Ambiental, Social e Governança), é o surgimento de "Royalty Social". Uma pequena parcela da taxa pode ser destinada a projetos de impacto social ou ambiental que reforcem o posicionamento da marca. Isso não só melhora a imagem da rede, como também transforma o royalty em um instrumento de valor compartilhado com a comunidade.
O futuro é de maior transparência, personalização e foco na entrega de valor mensurável, conforme a visão da Internacional Franchise Association (IFA), que advoga por modelos que alinhem lucro e performance.
📚 Ponto de partida
A Circular de Oferta de Franquia (COF) é o ponto de partida, o documento sagrado que o franqueado deve ler com o máximo de atenção. É nela que todos os aspectos financeiros, incluindo o método de cálculo dos royalties, as obrigações de pagamento e a destinação (geral) dos recursos devem estar detalhadamente especificados.
O Checklist do Ponto de Partida
Modelo e Percentual: Entenda o que será cobrado (faturamento bruto, líquido, valor fixo, ou híbrido) e o percentual. Tenha clareza sobre o que o "Faturamento Bruto" inclui (Exclui impostos? Inclui gorjetas ou taxas de entrega?).
O Fundo de Marketing/Propaganda: Quase sempre é uma taxa separada do royalty. Verifique a porcentagem e, crucialmente, se o franqueador está obrigado a prestar contas sobre o uso desse fundo (a Lei de Franquia não obriga, mas a boa prática de mercado sim).
Multas e Penalidades: O que acontece se o pagamento do royalty atrasar? As multas e juros de mora devem estar claras. Atrasos podem gerar multas pesadas e, em casos extremos, a rescisão do contrato.
Recorrência e Vencimento: A data e a frequência de pagamento (mensal, quinzenal, etc.) devem ser inegociáveis. A inadimplência no pagamento de royalties é a principal causa de litígio entre franqueado e franqueador.
Ademar Penteado, um respeitado consultor jurídico em franchising, enfatiza: "A COF não é um contrato, mas é o documento que define as regras do jogo. Nela, o futuro franqueado encontra todas as informações que precisam para tomar a decisão de negócio. Se os royalties não estiverem claros, é um sinal de alerta de que a relação pode ser turbulenta." O conhecimento detalhado da COF é a melhor arma do franqueado para garantir que ele entre no negócio com os pés no chão e os olhos abertos para as responsabilidades financeiras.
📰 O Diário Pergunta
No universo da(o): cobrança de royalties em franquias, as dúvidas são muitas e as respostas nem sempre são simples. Para ajudar a esclarecer pontos fundamentais, O Diário Pergunta, e quem responde é: Dr. Artur Medeiros, consultor financeiro e especialista em Valuation de Redes de Franquia, com mais de 20 anos de experiência profissional na análise de viabilidade de negócios franqueados.
O Diário Pergunta: Dr. Artur, qual é o erro mais comum que o franqueado comete ao analisar a taxa de royalty?
Dr. Artur Medeiros: O erro mais comum é focar apenas no percentual e não na base de cálculo. Um royalty de sobre o faturamento líquido pode ser muito menos doloroso do que um royalty de
sobre o faturamento bruto. Além disso, o franqueado geralmente falha em simular o impacto do royalty no seu ponto de equilíbrio (o quanto precisa vender para não ter prejuízo).
O Diário Pergunta: É possível negociar o percentual de royalties?
Dr. Artur Medeiros: Em geral, o percentual é fixo para toda a rede, para garantir a equidade. No entanto, em casos de multifrancos (franqueados que abrem muitas unidades) ou em negociações para a abertura de uma unidade em um território desafiador (mercado novo ou de baixo poder aquisitivo), o franqueador pode flexibilizar por um período inicial (ex: taxa zero nos primeiros 3 meses) ou oferecer uma escala decrescente, mas o percentual base é raramente negociado.
O Diário Pergunta: O que o franqueador faz com o dinheiro dos royalties?
Dr. Artur Medeiros: Esse dinheiro financia a estrutura da franqueadora: folha de pagamento da equipe de suporte (consultores de campo, treinamento, marketing institucional), P&D (pesquisa e desenvolvimento), advogados, sistemas de gestão e a defesa da marca. É a fonte de receita que permite à franqueadora inovar e manter a rede competitiva.
O Diário Pergunta: Se a franqueadora não presta um bom suporte, o franqueado pode parar de pagar?
Dr. Artur Medeiros: Em hipótese alguma. O não pagamento de royalties é a principal causa de rescisão contratual por justa causa e litígio. Se o franqueado está insatisfeito com o suporte, ele deve seguir os mecanismos contratuais de notificação e mediação, mas o pagamento é uma obrigação contínua. A suspensão unilateral é uma quebra de contrato.
O Diário Pergunta: O que é melhor: royalty fixo ou variável?
Dr. Artur Medeiros: Depende do negócio. O variável (percentual) é mais justo para franquias de varejo e alimentação, onde o faturamento varia muito, pois a franqueadora compartilha o risco do baixo desempenho. O fixo é bom para franquias de serviços ou com baixo investimento, pois dá previsibilidade ao franqueado, mas não alinha tanto o interesse da franqueadora no sucesso de vendas.
O Diário Pergunta: Qual é a diferença entre royalty e Fundo de Propaganda/Marketing?
Dr. Artur Medeiros: O royalty é o pagamento pelo know-how e uso da marca. O Fundo de Propaganda é o valor específico, geralmente obrigatório, destinado a ações de marketing e publicidade em benefício de toda a rede (campanhas nacionais, mídias sociais, etc.). O franqueador não pode usar o Fundo de Propaganda para financiar o back-office operacional.
O Diário Pergunta: Um alto percentual de royalty significa que a franquia é melhor?
Dr. Artur Medeiros: Não necessariamente. Significa que a franqueadora cobra mais caro pelo seu valor agregado. Pode ser justificado se o valor agregado for realmente alto (marca muito forte, tecnologia exclusiva, alta inovação), mas também pode ser sinal de uma rede com altos custos operacionais ou baixa escala de unidades. É preciso analisar o pacote inteiro.
📦 Box informativo 📚 Você sabia?
O conceito de royalties é muito mais antigo do que o franchising moderno. O termo deriva da palavra inglesa royal (real), pois, originalmente, os royalties eram pagamentos feitos ao monarca (à realeza) pela permissão de explorar recursos naturais valiosos, como minérios, ou para exercer um direito exclusivo. Era, literalmente, o "pagamento ao rei".
No contexto moderno, a Lei da Propriedade Industrial (Lei ) e o INPI (Instituto Nacional da Propriedade Industrial) são os pilares para a proteção do que gera a base dos royalties no franchising: a propriedade intelectual (marcas e patentes).
A Lei de Franquia (Lei
) e a Essência dos Royalties
A nova Lei de Franquia não inovou na definição, mas reforçou a obrigação de clareza sobre a cobrança de royalties na Circular de Oferta de Franquia (COF). O que a COF deve detalhar sobre os royalties, por força de lei:
Valor, Fórmula e Periodicidade de Pagamento: Não pode haver surpresas. O franqueado deve saber exatamente como, quanto e quando será cobrado.
Taxa Inicial e Taxas Recorrentes: A COF deve separar o que é a taxa inicial de franquia (paga uma vez) e o que são as taxas recorrentes (royalties, marketing, etc.).
Situações de Inadimplência: As multas, juros e as consequências da falta de pagamento devem estar explícitas.
A importância do know-how no cálculo do royalty é crucial. Em muitos casos, o royalty é o pagamento contínuo pela fórmula secreta do negócio: o manual de operação, o treinamento, a otimização de estoque, ou seja, o "segredo" que o franqueador levou anos para desenvolver. Pesquisas da ABF mostram que redes com um manual de operação mais detalhado e um suporte de campo mais frequente conseguem justificar um percentual de royalty ligeiramente mais elevado, pois o risco operacional do franqueado é significativamente reduzido. O franqueado está, em essência, comprando tempo, experiência e a segurança de um modelo que funciona.
🗺️ Daqui pra onde?
O futuro da relação financeira em franquias aponta para uma diferenciação agressiva no valor percebido do royalty. Não basta cobrar; é preciso provar o valor continuamente.
A Franquia Híbrida e a Centralidade de Dados
O modelo de negócio híbrido (loja física e e-commerce) é uma realidade, e os royalties devem se adaptar a isso. Surge a questão: o royalty é cobrado sobre vendas online feitas no território do franqueado, mesmo que a venda tenha sido gerada pela central? As redes mais modernas estão usando a análise de dados (Big Data) para mapear a origem do cliente e garantir que o franqueado seja devidamente remunerado e, consequentemente, pague o royalty sobre essa venda, reconhecendo o seu investimento territorial.
A Necessidade de Transparência Institucional
Para onde vamos exige governança. O franqueador que deseja ter uma relação de longo prazo, de confiança e sem atritos, deve institucionalizar a transparência. Criar um Conselho de Franqueados que tenha acesso aos relatórios de investimento do Fundo de Marketing, e que possa debater o uso dos recursos do royalty em P&D, é um movimento de maturidade. Esse é o caminho para transformar o royalty de um custo imposto em um investimento negociado e validado pela própria rede.
A jornada do empreendedor é complexa. O royalty, se bem empregado, é o combustível que impulsiona a inovação e o sucesso da rede, garantindo que o franqueado não precise reinventar a roda, mas sim girá-la com mais eficiência.
🌐 Tá na rede, tá online
A discussão sobre royalties é um tema quente nas redes, onde a linguagem é mais crua e as opiniões são mais polarizadas.
Introdução: Nos grupos de Facebook e no Twitter, onde a frustração e a euforia andam lado a lado, o debate sobre "pagar para trabalhar" ganha contornos dramáticos. A percepção do royalty nas redes é um misto de revolta (quando o suporte é ruim) e aceitação resignada (quando o negócio prospera).
No Facebook, em um grupo de novos franqueados de alimentação:
Post de LéoBurger_Oficial: "Galera, essa taxa de royalte é de matar! Meu lucro esse mês foi R$ 5k e tive que pagar R$ 4k pro meu aluguel e mais R$ 800 de royalty. Tá valendo a pena? Eu trabalho pra eles, não pra mim. Mando o faturamento pra cima e eles só cresce o olho."
No Twitter, em uma thread sobre microfranquias digitais:
Usuário @FiqueRicoEmCasa: "Pessoal, fiquem espertos! Franquia de low-cost que cobra royalti fixo é cilada. Se você fatura R$ 1.000,00 tem que pagar o mesmo R$ 500,00 de quem fatura R$ 10.000,00. O risco é todo seu, o deles é zero. Pega a dica, foca na sua marca, cria seu nome. #FranquiaNao #SejaSeuPatrao"
No LinkedIn, em um post de um consultor:
Comentário de Ana_Perez: "A crítica ao royalty é válida, mas é superficial. Meu franqueado mais bem-sucedido diz: 'Eu pago
de royalty e economizo
em compra de insumos, devido ao poder de negociação da rede. O royalty me paga de volta'. A percepção de valor é a chave. Pare de chorar o custo, exija o benefício!"
No Instagram, em um comentário de um empreendedor sobre stories de uma franqueadora:
@EmpreendoMasNaoSeiTudo: "Eles postam vídeo motivacional todo dia, mas na hora que a gente pede ajuda pra arrumar o maquinário, some todo mundo! Eu tô pagando a taxa de royalts pra quê? Pra eles viajarem pra Cancún? Mó vacilo essa falta de suporte. A marca é forte, mas o suporte é móh fraco."
🔗 Âncora do conhecimento
Se o custo da marca e do suporte te preocupa no modelo de royalties, é fundamental que você também entenda a outra ponta da responsabilidade no mundo dos negócios: as normas e os direitos que protegem o desenvolvimento e a integridade social. Para ter uma visão completa e embasada sobre como a legislação molda a responsabilidade social e o universo jurídico, que afeta a todos, clique aqui e continue sua leitura sobre os direitos do adolescente em conflito com a lei, uma área da legislação de profundo impacto na sociedade e que exige a mesma clareza e análise crítica que dedicamos aos royalties.
Reflexão Final
O royalty não é uma punição, mas a moeda de troca por um risco menor e um caminho mais curto para o mercado. O sucesso de uma rede de franquias nunca será medido apenas pelo seu faturamento, mas pela qualidade de sua parceria com os franqueados. A verdadeira revolução no franchising virá quando o franqueador provar, a cada mês, que o valor que ele entrega supera a taxa que ele cobra. A lição final é: olhe além do percentual, avalie o serviço. Se o suporte é forte, o royalty é justo. Se não é, nem a taxa zero valeria a pena. Pense nisso e invista com a mente crítica e a visão estratégica que o Diário do Carlos Santos sempre incentiva.
Recursos e Fontes Bibliográficos
Lei
(Nova Lei de Franquia Empresarial).
Associação Brasileira de Franchising (ABF) - Anuário de Desempenho do Setor (Dados sobre percentuais e modelos de cobrança).
FORNER, Claudio. Franchising: A Estratégia de Sucesso para Expansão. (Referência sobre a função do royalty).
PENTEADO, Ademar. Aspectos Legais e Contratuais da Franquia. (Análise da COF e da legalidade das taxas).
DRUCKER, Peter. A Prática da Administração. (Referência filosófica sobre lucro e valor).
IFA (International Franchise Association) - Publicações e Guias de Melhores Práticas.
⚖️ Disclaimer Editorial
As análises, opiniões e informações apresentadas neste artigo são de caráter estritamente editorial e informativo, refletindo o ponto de vista do autor e baseando-se em fontes públicas e consolidadas do mercado de franchising. Este conteúdo não deve ser interpretado como aconselhamento financeiro, jurídico ou de investimento. Antes de tomar qualquer decisão de negócio, especialmente a adesão a um contrato de franquia, o leitor deve procurar a devida assessoria jurídica e financeira especializada para analisar a Circular de Oferta de Franquia (COF) e o modelo de negócio de forma individualizada.


Post a Comment