Descubra por que o riso é uma ferramenta vital para saúde, conexão e até resistência — entre humanos e animais.

 

Por que o riso importa? A ciência de sorrir entre humanos e animais

Por Carlos Santos



Rir é coisa séria. Apesar de muitas vezes ser visto como algo trivial, quase automático, o riso carrega em si uma carga profunda de significado social, biológico e até político. Na nossa sociedade hiperconectada, polarizada e, frequentemente, adoecida pelo estresse, entender os impactos do riso na nossa saúde mental e nos nossos relacionamentos é mais necessário do que parece. E não somos só nós, humanos, que rimos — há registros científicos de que outras espécies também utilizam formas específicas de vocalização que cumprem função semelhante.

Neste post, vamos aprofundar o papel do riso na construção da saúde, nos laços afetivos e nas dinâmicas sociais, com base em estudos sérios e recentes sobre o tema.


O riso como linguagem: muito além da comédia

O riso é um comportamento ancestral. Segundo o neurocientista Jaak Panksepp, que estudou intensamente o comportamento de mamíferos, a vocalização associada à brincadeira — o que ele chamava de "vocalizações de jogo" — está presente em várias espécies e cumpre funções específicas para a coesão do grupo.


Em humanos, rir não é apenas uma resposta ao humor, mas uma ferramenta social de conexão. Estudo publicado pela Royal Society Open Science demonstrou que o riso em grupo atua como um facilitador de confiança, cooperação e empatia. Isso explica, por exemplo, por que rimos com mais frequência na presença de amigos do que sozinhos diante de uma comédia.

Ainda segundo os pesquisadores, o riso evoluiu como uma forma de comunicação não-verbal para garantir segurança, indicar intenção amigável e suavizar tensões. Em outras palavras: rir é um pacto de paz.


Quando os animais riem: o som da brincadeira

Pesquisadores da UCLA, nos Estados Unidos, identificaram mais de 65 espécies que emitem sons específicos durante interações lúdicas — algo que se assemelha ao riso humano. Dentre elas estão cães, chimpanzés, golfinhos, vacas, ratos, corvos e elefantes.


Esses sons, muitas vezes quase inaudíveis ao ouvido humano, são emitidos durante perseguições, lutas de brincadeira ou interações sociais. O objetivo é simples: comunicar que a situação é amigável, não agressiva.

Um exemplo curioso vem dos ratos, que emitem uma espécie de "gargalhada ultrassônica" quando estão sendo acariciados. Esse comportamento foi descrito por Panksepp em 2000 e abriu novas portas para a compreensão da afetividade entre espécies.

Isso mostra que o riso não é um privilégio humano. Ele pode ser uma das ferramentas biológicas mais antigas de comunicação pacífica — um elo entre espécies na construção de vínculos.


Riso como medicina: a neuroquímica da alegria

Do ponto de vista fisiológico, o riso tem efeitos poderosos sobre o corpo humano. Segundo a Mayo Clinic, uma das instituições médicas mais respeitadas do mundo, rir:

  • Reduz os níveis de cortisol, hormônio do estresse

  • Estimula a liberação de endorfinas, substâncias naturais associadas ao bem-estar

  • Aumenta a oxigenação do sangue e melhora a circulação

  • Relaxa os músculos, reduzindo tensões

  • Fortalece o sistema imunológico

Esses efeitos são observados tanto em risos espontâneos quanto provocados. Ou seja, até mesmo o famoso “rir de nervoso” pode ser benéfico.

Além disso, estudos clínicos têm associado o riso a melhorias no quadro de pacientes com depressão leve a moderada, como mostra um levantamento publicado na revista Psychiatry Research. Embora não substitua tratamentos convencionais, rir pode funcionar como um coadjuvante terapêutico poderoso.


Quando rir vira resistência

O riso também pode ter um papel político e subversivo. Em contextos de repressão, censura ou violência simbólica, o humor se transforma em arma. Piadas, memes e sátiras carregam verdades muitas vezes indizíveis em discursos formais. O riso, nesse sentido, torna-se uma forma de resistência.

Basta lembrar de figuras como o palhaço Tiririca, cujas campanhas humorísticas ironizavam o próprio sistema político — e que, ainda assim (ou por isso), conseguiram votos massivos. Ou os comediantes do Porta dos Fundos, que usam o humor como crítica contundente a estruturas religiosas, políticas e sociais.

Neste caso, rir não é apenas uma expressão de alegria: é também um gesto de enfrentamento.


Minha opinião

Como observador social e comunicador, eu percebo que o riso está cada vez mais sendo limitado ao entretenimento. Mas ele é muito mais do que isso. Rir é se aproximar. É desarmar o outro. É criar pontes, mesmo em tempos difíceis.

Num país marcado por desigualdades e tensões constantes, como o Brasil, o riso não pode ser desprezado. Ele precisa ser cultivado — não como fuga, mas como ferramenta de saúde coletiva e empatia. Se até os animais conseguem construir vínculos afetivos por meio da alegria, o que falta para nós, humanos, aprendermos a rir com mais sinceridade?

Que tal começar agora?


📦 Box informativo 

📚 Você sabia?

  • Um estudo da UCLA revelou que mais de 65 espécies apresentam sons semelhantes ao riso durante brincadeiras, incluindo elefantes, golfinhos e corvos.

  • O riso reduz o estresse, aumenta a imunidade e melhora a circulação sanguínea, segundo a Mayo Clinic.

  • Em contextos políticos, o riso já foi classificado por estudiosos como uma forma de resistência cultural.

  • O riso tem impactos reais na saúde emocional e pode aliviar sintomas de ansiedade e depressão, segundo estudos publicados na Psychiatry Research.

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