Mapa da América do Sul com a rota prevista da ferrovia bioceânica destacada (pode usar banco gratuito como Unsplash ou Pixabay).

 🌍 Ferrovia Bioceânica: o Peru quer acelerar e o Brasil precisa decidir

Por Carlos Santos



O projeto da Ferrovia Transcontinental — também conhecida como Ferrovia Bioceânica — volta ao centro das discussões internacionais com a iniciativa recente do Peru em convocar uma reunião de alto nível com representantes da China e do Brasil. A intenção é clara: tirar do papel um dos projetos logísticos mais ambiciosos da América do Sul, que visa ligar o Oceano Atlântico ao Oceano Pacífico por trilhos.

Um corredor ferroviário entre oceanos

A ferrovia bioceânica é pensada como um corredor de exportação que atravessa o continente, começando no Brasil e finalizando em um porto peruano no Pacífico. Essa rota estratégica encurtaria o caminho das exportações brasileiras para os países asiáticos, sobretudo para a China — nosso maior parceiro comercial.

O Peru, percebendo a estagnação das negociações nos últimos anos, decidiu retomar a diplomacia ativa. O ministro da Economia, Raúl Pérez Reyes, destacou que o embaixador chinês em Lima sugeriu uma reunião entre os três países. A intenção é alinhar interesses e criar uma rota de ação coordenada para o avanço do projeto.

Histórico de idas e vindas

A ferrovia não é uma ideia nova. Desde 2014 ela é debatida em cúpulas políticas sul-americanas. Em 2019, um estudo de viabilidade foi prometido por Peru e Bolívia, mas o apoio decisivo do Brasil nunca se concretizou. Isso porque, durante o governo de Jair Bolsonaro, o país priorizou uma alternativa pela rota chilena, mais distante da floresta amazônica, mas politicamente mais alinhada àquele momento.

Agora, com a China reafirmando seu interesse em financiar parte da empreitada e com o Brasil sob uma administração mais inclinada à integração regional, a proposta ganha novo fôlego.

Valor estratégico e impacto econômico

Estima-se que apenas o trecho peruano da ferrovia custe US$ 7,5 bilhões. Um valor alto, mas justificável se considerarmos o impacto potencial: redução no custo logístico, maior competitividade dos produtos brasileiros na Ásia, estímulo ao desenvolvimento de regiões historicamente negligenciadas como o Acre, Rondônia e o oeste da Bahia.

Além disso, ao conectar-se à Ferrovia de Integração Oeste-Leste (FIOL) no Brasil, o projeto promoveria um eixo estruturante de desenvolvimento, com repercussões econômicas profundas.

O desafio ambiental e a busca por equilíbrio

Uma das maiores críticas à ferrovia envolve sua possível passagem por áreas sensíveis da floresta amazônica. O governo brasileiro rejeitou, em anos anteriores, a proposta de uma rota que cruzasse diretamente áreas protegidas da Amazônia legal.



Atualmente, uma alternativa mais viável é estudada: a ferrovia partiria da FIOL (na Bahia), passaria por Goiás e Mato Grosso, chegando ao Acre e, de lá, ao Peru. Essa nova rota evita a floresta densa, mas ainda assim exige cuidados ambientais rigorosos, pois atravessa áreas de biodiversidade e territórios indígenas.

A China como financiadora e parceira estratégica

A China, principal destino das commodities brasileiras, tem interesse direto na conclusão do projeto. Para Pequim, encurtar o tempo e o custo das importações de grãos, minérios e carne do Brasil significa fortalecer sua segurança alimentar e industrial.

Além disso, com a crescente tensão no comércio global — especialmente entre China e Estados Unidos —, Pequim tem buscado diversificar seus canais logísticos. A América do Sul surge como peça-chave nesse tabuleiro.

Brasil: entre a hesitação e a oportunidade

O Brasil ainda hesita. Entre burocracia, instabilidade política e disputas de interesse, o país corre o risco de deixar escapar uma oportunidade histórica. Mais que uma ferrovia, o projeto representa um novo modelo de inserção internacional: menos dependente de portos congestionados, mais integrado à dinâmica continental.



Como enfatiza a matéria do MoneyTimes, a movimentação peruana evidencia que os vizinhos estão dispostos a liderar. Resta saber se o Brasil será um agente de protagonismo ou um espectador inerte.

✍️ Opinião do autor

A tentativa do Peru de articular uma reunião trilateral com China e Brasil acende uma luz sobre o tipo de decisão que precisamos tomar como nação: queremos apenas exportar matéria-prima ou assumir protagonismo logístico e industrial na América do Sul?

A ferrovia bioceânica é, sem dúvida, um divisor de águas. E como bem enfatiza a matéria no MoneyTimes, não se trata apenas de um investimento em infraestrutura — mas sim de uma aposta estratégica no futuro da integração continental.

O Diário do Carlos Santos acredita que o Brasil precisa participar ativamente desse processo, negociando com responsabilidade ambiental e social, mas com a visão de longo prazo de quem compreende seu papel geopolítico.

📦 Box informativo 📚 Você sabia?

  • A ferrovia bioceânica terá mais de 4.000 km, conectando Brasil, Bolívia e Peru até o Oceano Pacífico.
  • O custo total estimado do projeto é superior a US$ 10 bilhões.
  • O principal porto de destino no Pacífico seria Ilo, no sul do Peru.
  • A FIOL, no Brasil, já está parcialmente construída e é peça-chave da integração ferroviária.
  • O projeto tem o potencial de reduzir em até 30% o tempo de exportação para a Ásia.

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