Dólar em Alta: Efeitos da Cotação Flutuante no Dia a Dia e nos Bastidores da Economia Brasileira

 Dólar em Alta: Efeitos da Cotação Flutuante no Dia a Dia e nos Bastidores da Economia Brasileira



Por: Carlos Santos

A cotação do dólar voltou a subir nesta semana, reacendendo um velho debate no Brasil: afinal, qual o real impacto do câmbio flutuante no bolso do brasileiro — e nos rumos da economia?

Desde que o país adotou o regime de câmbio flutuante, em 1999, o valor do dólar passou a responder diretamente às forças do mercado: oferta e demanda. É um modelo que traz liberdade, mas também expõe nossa economia a oscilações muitas vezes bruscas — e, não raramente, injustas para o cidadão comum.


Hoje, com a moeda americana rondando valores elevados, sentimos os reflexos de forma imediata. Combustíveis, alimentos, produtos eletrônicos, medicamentos — tudo que depende de importação ou tem preço atrelado ao mercado externo sobe de preço. A inflação, que já vinha pressionada, ganha fôlego. E, quando a inflação respira, como escrevi recentemente, é o brasileiro que perde o fôlego.

Mas os impactos vão além da gôndola do supermercado. Um dólar em alta coloca o Banco Central contra a parede. Reduzir a Selic para impulsionar a economia? Pode ficar mais difícil se a moeda americana continuar subindo. É que a alta do dólar alimenta expectativas inflacionárias, e o BC sabe que, num cenário assim, a margem de manobra diminui.

Do ponto de vista das exportações, claro, há um alívio. Soja, carne, minério de ferro, petróleo — todos ganham competitividade com um real desvalorizado. É bom para o agronegócio e para as contas externas. Mas essa vantagem vem acompanhada de um dilema estrutural: exportamos mais e acabamos pagando mais caro por produtos aqui dentro. Ou seja, o que entra de dólar por um lado, escapa do poder de compra do brasileiro por outro.

E aí vem o ponto central da minha análise: a política cambial no Brasil é neutra demais para um país que depende tanto dela. O câmbio flutuante, por si só, não é o vilão — mas ele exige um conjunto de políticas fiscais, monetárias e de confiança institucional que o sustentem. Caso contrário, viramos reféns de qualquer rumor global ou instabilidade interna.

Hoje, não falta quem aposte que o dólar ainda pode subir mais se o governo não entregar previsibilidade fiscal. As declarações vindas de Brasília nem sempre ajudam, e o mercado é implacável com o que chama de “ruído político”. Só que esse ruído, no fundo, é o som que ecoa na bomba de gasolina e no feijão com arroz.

Por isso, defendo que precisamos tratar o câmbio como um assunto de interesse coletivo, e não apenas como uma variável técnica para agradar investidores. Um dólar alto demais por tempo demais cobra caro da sociedade — especialmente da mais pobre. E como bem sabemos, é sempre o elo mais fraco que paga a conta dos desequilíbrios econômicos.

O real pode ser flutuante. Mas a responsabilidade com a política econômica precisa ser firme, clara e contínua. Caso contrário, continuaremos boiando em águas agitadas — sem leme, sem direção.

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