A visita sul-americana à China e o incômodo dos EUA: quem dita as regras agora? Fórum China-CELAC 2025: A Grande Virada nas Relações da América Latina com a China

 🌏 A visita sul-americana à China e o incômodo dos EUA: quem dita as regras agora?

Por Carlos Santos




Enquanto parte dos analistas internacionais ainda insistem em olhar a América do Sul como um quintal dos Estados Unidos, a realidade geopolítica vai provando o contrário — e com gosto. Nesta semana, uma comitiva de líderes sul-americanos desembarca em Pequim para o Fórum China-CELAC, evento que simboliza não apenas acordos comerciais, mas um deslocamento claro no eixo das alianças internacionais.

O presidente Lula, o colombiano Gustavo Petro e o chileno Gabriel Boric estão entre os convidados. E, enquanto a Ásia os recebe com tapete vermelho, os Estados Unidos observam com aquele desconforto que mistura desconfiança e arrogância. Afinal, ver seus vizinhos históricos se aproximarem do maior rival comercial é, no mínimo, desconcertante para quem se habituou a liderar a região sem ser desafiado.

É claro que a China tem interesses econômicos — e muitos. Precisa de cobre, soja, petróleo e lítio, e sabe negociar como poucos. Mas, diferentemente do tom doutrinador típico de Washington, Pequim se apresenta como parceira estratégica, sem dar lição de moral. E, goste-se ou não, isso agrada a muitos líderes latino-americanos.

A aproximação não é de hoje. Em 2013, os EUA ainda eram os maiores parceiros comerciais da América Latina. Dez anos depois, a China assumiu a dianteira, com mais de US$ 300 bilhões em transações — enquanto os EUA viram seus números minguarem. E não se trata apenas de compra e venda: há investimento, infraestrutura e até empréstimos em jogo.

Mas o que mais assusta os americanos talvez seja o simbólico: a perda de centralidade. Em um momento em que os EUA enfrentam crises internas, desaceleração econômica e desconfiança política, ver sua influência sendo trocada por outra potência é quase uma ferida no ego imperial.

O Fórum China-CELAC desta semana, portanto, não é apenas um evento diplomático. É um espelho do novo tabuleiro mundial — onde a América Latina, aos poucos, deixa de ser espectadora e começa a jogar suas próprias cartas. E talvez o mais incômodo disso tudo, para os EUA, não seja a presença da China... mas a ausência do medo.


Reflexão final
O que estamos vendo é uma chance histórica de reposicionamento. Cabe a nós, sul-americanos, aproveitarmos essa pluralidade de parcerias para construir algo que não seja refém nem de velhos impérios nem de novas promessas. A chave está em negociar com inteligência, sem submissão — e, principalmente, sem nostalgia colonial.

Fórum China-CELAC 2025: A Grande Virada nas Relações da América Latina com a China


A semana promete ser um marco nas relações internacionais da América Latina. Entre os dias 13 e 14 de maio de 2025, líderes dos países da CELAC (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos) se reunirão com representantes do governo chinês no 4º Fórum Ministerial China-CELAC, em Pequim. Em um momento de crescente rivalidade global, o fórum se apresenta como uma oportunidade crucial para fortalecer as parcerias entre a China e os países da região — um movimento que promete reconfigurar as dinâmicas econômicas e políticas na América Latina.

Comércio, Energia e Infraestrutura: O Eixo das Conversas

O primeiro ponto de destaque do fórum será a ampliação das negociações comerciais. Com foco nas exportações agrícolas, os países da CELAC irão discutir acordos que podem garantir a China uma maior oferta de produtos como soja, abacaxi, feijão e carne suína, itens que são essenciais para a diversificação do mercado chinês. No entanto, é no campo da energia renovável e da infraestrutura que se concentram algumas das maiores expectativas. Países como a Colômbia, que deve formalizar sua adesão à Iniciativa do Cinturão e Rota (BRI), buscam a oportunidade de atrair investimentos chineses para os setores de energia limpa e construção de infraestrutura vital para o crescimento regional.

A China, com seu poderio financeiro, já é um parceiro estratégico da região, e o fórum promete aprofundar essa relação. É uma oportunidade para os países latino-americanos ampliarem sua presença em uma economia global cada vez mais dependente de acordos multilaterais.

Desafios à Rumo da Industrialização e Sustentabilidade

Um dos temas mais importantes que será discutido é o modelo de transição energética. As economias latino-americanas, historicamente dependentes da exportação de commodities, enfrentam o desafio de não se tornarem dependentes exclusivamente de produtos primários. A proposta é integrar tecnologias verdes, energias renováveis e um novo ciclo de industrialização que possa beneficiar toda a região. A participação da China, com sua expertise tecnológica, será crucial nesse processo.

A pergunta que fica, no entanto, é: até que ponto a China, com sua crescente influência, será vista como um parceiro construtivo ou como uma nova potência em ascensão que pode suplantar o domínio tradicional dos Estados Unidos na região?

A Geopolítica do Novo Mundo

Enquanto a China busca ampliar sua influência, o incômodo dos Estados Unidos com o fortalecimento dessas relações é evidente. O governo americano já manifestou sua preocupação com os crescentes investimentos chineses na América Latina, especialmente nas áreas de infraestrutura e energia. Para os EUA, essa aproximação pode significar uma perda de influência sobre uma região que historicamente foi vista como parte de sua zona de influência.

Entretanto, a América Latina, aos poucos, começa a reconfigurar seu papel no cenário mundial. O Fórum China-CELAC simboliza essa mudança, onde a região busca não ser mais apenas espectadora, mas protagonista de sua própria história no tabuleiro geopolítico.

O Que Está em Jogo: Multilateralismo e Autonomia Regional

O Fórum também será um palco para discussões sobre multilateralismo e as reformas necessárias nas instituições globais. À medida que a guerra comercial entre China e Estados Unidos se intensifica, a América Latina se vê diante de uma oportunidade única de fortalecer suas próprias alianças e buscar uma nova ordem mundial, mais equitativa e justa para todos.

Não podemos esquecer que, no meio desse jogo de forças, os interesses da população latino-americana precisam ser colocados como prioridade. A China pode ser um grande parceiro, mas a capacidade dos países da CELAC de negociar de forma independente e sustentável será o verdadeiro teste para o futuro da região.

Conclusão: O Desafio da Autonomia

O Fórum China-CELAC 2025 não é apenas um evento diplomático, mas um marco que reflete uma virada estratégica nas relações internacionais. Com sua crescente influência, a China se apresenta como um parceiro chave para o futuro da América Latina, enquanto os Estados Unidos observam com receio. A chave para os países da CELAC será a habilidade de equilibrar essas alianças, sem perder a autonomia política e econômica que garantirá seu papel no novo cenário global.

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