INSS vai devolver valores descontados indevidamente em abril: um aceno tardio ao respeito que o cidadão merece
Em um cenário onde o respeito ao cidadão deveria ser regra e não exceção, o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) anunciou que vai devolver valores descontados indevidamente de aposentados e pensionistas na folha de abril de 2025. A devolução começa a partir do dia 24 de maio e é resultado de um erro administrativo vinculado a contribuições relacionadas ao empréstimo consignado. Embora o gesto de devolução traga certo alívio, ele também levanta questões profundas sobre a relação entre o Estado e o povo que sustenta suas engrenagens com trabalho, impostos e confiança.
O que aconteceu: um erro com nome, CPF e consequências
Segundo informações oficiais do governo federal e reportagens como a do InfoMoney, o erro ocorreu na integração entre sistemas de bancos e do INSS, provocando descontos indevidos em milhares de benefícios, em especial os relacionados ao crédito consignado. O órgão se comprometeu a estornar os valores diretamente na conta dos beneficiários sem necessidade de requerimento adicional. Em nota, o Ministério da Previdência afirmou que o problema foi identificado e corrigido em parceria com a Dataprev.
Embora essa correção soe como um ato de justiça, é inevitável perguntar: por que falhas assim continuam ocorrendo em um sistema que já deveria operar com maturidade digital e responsabilidade social?
Uma lesão que vai além do bolso
Quando falamos de descontos indevidos, estamos tratando de mais do que números em um extrato bancário. Atinge-se o emocional, o psicológico e, sobretudo, a dignidade. A maioria dos afetados
pertence a uma população vulnerável, muitas vezes com o orçamento milimetricamente planejado para sobreviver entre contas, remédios, alimentação e obrigações domésticas. Tirar até R$50, R$100 ou mais desse cenário pode significar não comprar um remédio, atrasar uma conta de luz, ou deixar de ajudar um neto.
Esses episódios expõem uma ferida social: a precariedade dos cuidados com quem mais precisa de amparo. A máquina pública, ao agir com negligência ou desatenção, revela que o cidadão muitas vezes é visto como um número — e não como uma vida.
Quando o alerta passa despercebido
Este episódio dialoga diretamente com outro post recente do blog: “Quando o alerta passa despercebido: o excesso de informação e o Brasil que não escuta”. Nele, discutimos como a avalanche de informações pode anestesiar a sociedade, tornando-a menos reativa até mesmo diante de abusos sistemáticos.
No caso do INSS, quantos brasileiros sequer notaram que algo errado havia acontecido com seus benefícios? Quantos desconfiaram, mas foram desencorajados a buscar seus direitos por medo da burocracia ou falta de informação clara? Quantos simplesmente aceitaram, achando que era "mais uma taxa nova que inventaram"?
A invisibilidade dessas violações mostra que ainda vivemos em um Brasil onde a escuta do povo não é prioridade — nem pelas instituições, nem pela mídia tradicional.
Opinião do autor:
Quando o erro do sistema é normalizado
Estive recentemente refletindo sobre essa situação enquanto revia o impacto do post que fiz sobre a saturação da informação na nossa sociedade. A devolução dos valores, nesse caso, não é um gesto de bondade. É o mínimo. E é tardio.
Um país que realmente respeita seus idosos e aposentados não erra assim. Ou, se erra, não demora tanto a assumir e resolver com total transparência. Não estamos falando de um engano qualquer — mas de uma falha que atingiu diretamente o sustento de milhares de brasileiros, já fragilizados economicamente.
Há um problema profundo na cultura institucional brasileira que precisa ser questionado: quando o erro administrativo se torna norma, o cidadão vira refém da desorganização pública. E nesse ciclo de burocracia, descaso e desculpas formais, fica a sensação de que o povo é o elo mais frágil e esquecível da corrente.
A responsabilidade da mídia e da sociedade civil
Outro ponto sensível é a cobertura midiática que, apesar de noticiar o ocorrido, muitas vezes o faz de forma fria, técnica, sem considerar o aspecto humano da história. Não basta dizer “o INSS vai devolver valores” — é preciso escancarar o impacto disso na vida real. E mais do que isso, é necessário fomentar o debate: como evitar que aconteça de novo?
Cabe também à sociedade civil, aos blogueiros independentes e comunicadores digitais, como é o caso deste blog, manter aceso o debate sobre responsabilidade estatal. Não é sobre criar alarde, mas sobre manter vigilância.
E se fosse com você?
Para trazer essa questão para mais perto de quem lê: imagine você, com sua aposentadoria suada de um salário mínimo, vivendo com R$1.412, e de repente vê que R$132 foram descontados por um empréstimo que já foi pago ou sequer deveria ter sido cobrado. Como fica o seu mês? Sua saúde mental? Sua relação com o banco? Com o Estado?
Não dá para tratar isso como um mero "ajuste técnico". Isso é violência institucional.
📦 Box informativo 📚 Você sabia?
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O INSS tem mais de 39 milhões de beneficiários ativos no Brasil, entre aposentadorias, pensões e auxílios.
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Em 2022, o Tribunal de Contas da União (TCU) identificou mais de R$10 bilhões em pagamentos indevidos realizados pelo INSS ao longo de anos.
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Desde 2021, o Governo Federal prometeu digitalizar 100% dos serviços do INSS, mas falhas como essa mostram que há um longo caminho até um sistema realmente eficiente.
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Os beneficiários lesados podem acompanhar informações pelo Meu INSS (site ou aplicativo) e buscar ajuda na Ouvidoria pelo número 135.
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