Inflação de Abril Surpreende e Reacende o Debate Sobre os Rumos da Economia Brasileira
Por: Carlos Santos
“Mais do que um número, o IPCA de abril recoloca a inflação no centro das preocupações econômicas do país.”
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou nesta sexta-feira (10) o IPCA de abril: alta de 0,43%. À primeira vista, o índice pode parecer contido — especialmente em comparação com choques inflacionários recentes — mas, na prática, o resultado acende um sinal de alerta. Isso porque o acumulado em 12 meses chegou a 5,53%, ultrapassando o teto da meta de inflação estipulada pelo Conselho Monetário Nacional, que é de 4,5%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual.
A pergunta que fica é: até onde isso nos leva?
O dado de abril vem na esteira de uma sequência de pressões inflacionárias que têm resistido ao ciclo de cortes na taxa básica de juros, a Selic. Apesar de o Banco Central ter iniciado uma trajetória de afrouxamento monetário desde meados de 2023, a inflação persiste em níveis acima do ideal, alimentada por fatores como a alta dos alimentos, combustíveis e serviços, além de incertezas no campo fiscal.
Mais do que um número, o IPCA de abril recoloca a inflação no centro das preocupações econômicas do país — e, com ela, reacende o debate sobre a condução da política monetária. O Banco Central, que vinha sinalizando cortes adicionais na Selic, agora se vê diante de um dilema: continuar reduzindo os juros para estimular a economia, ou pisar no freio para conter o avanço dos preços?
Do lado político, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tentou minimizar o impacto dos números, adotando um tom otimista. Segundo ele, os fundamentos estão sendo ajustados e há confiança de que o Brasil encerrará 2025 com crescimento acima das projeções iniciais. Ele ainda acrescentou que 2026 tende a ser um ano mais confortável do ponto de vista fiscal. A narrativa é coerente com a estratégia do governo de transmitir confiança ao mercado, mas o discurso precisa se sustentar diante de um ambiente macroeconômico ainda instável.
É importante destacar que essa inflação não é apenas um debate técnico entre economistas. Ela afeta o cotidiano do brasileiro. O peso no bolso aparece no supermercado, na conta de luz, no aluguel, no transporte. A inflação real, aquela sentida nas prateleiras e nas bombas dos postos, é muitas vezes maior do que os índices oficiais sugerem, sobretudo entre os mais pobres, que gastam a maior parte de sua renda com itens básicos.
Na minha visão, o IPCA de abril funciona como um termômetro não apenas da atividade econômica, mas da credibilidade das políticas fiscal e monetária. Sem uma âncora fiscal clara, que demonstre compromisso com o controle dos gastos públicos, o esforço do Banco Central para conter a inflação perde força. E o risco de desancoragem das expectativas aumenta, especialmente se o mercado começar a duvidar da capacidade do governo de cumprir suas metas.
A grande questão é: estamos, de fato, construindo um caminho de convergência entre política monetária e fiscal, ou estamos apenas empurrando os problemas com a barriga, à espera de um cenário mais favorável?
O que os dados de abril nos mostram é que a inflação ainda respira — e, quando ela respira, é o brasileiro que perde o fôlego.
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