O Fim de um Ciclo e o Início de Outro
Por: Carlos Santos
Warren Buffett não escolheu uma data simbólica, nem um momento dramático. Simplesmente, entendeu que o tempo — esse juiz silencioso e implacável — havia chegado. Aos 94 anos, ele admitiu ao Wall Street Journal que não houve um "momento mágico" para decidir deixar o cargo de CEO da Berkshire Hathaway. E lançou a pergunta que ecoa mais do que parece: "Como você sabe o dia em que fica velho?"
Essa reflexão, vinda de um dos maiores investidores da história, revela não só lucidez, mas também humildade. Ao observar o ritmo de trabalho de Greg Abel, seu sucessor, Buffett percebeu algo que muitos líderes ignoram: o tempo cobra seu preço, mesmo dos gênios. Os dois já não caminhavam no mesmo compasso. Enquanto Abel acelerava, Buffett, ainda brilhante, sentia o corpo vacilar e os nomes escaparem. A diferença de energia tornou-se gritante. E ele, com sabedoria rara, soube recuar.
Buffett continuará como presidente do conselho, mas sua saída do comando operacional marca o fim de uma era. Muitos acreditavam que só largaria o posto com a morte — um mito que ele mesmo desmonta com elegância. “Achei que permaneceria no cargo enquanto fosse mais útil do que qualquer outro. E me surpreendeu quanto tempo isso durou.”
A história de Abel também merece atenção. Ele entrou na Berkshire em 1999, com a aquisição da MidAmerican Energy. Com o tempo, impressionou Buffett a ponto de assumir, em 2018, todas as operações não ligadas a seguros. Em 2021, foi escolhido oficialmente como sucessor. Agora, em 2025, assume definitivamente o timão.
"Talento de verdade é raro", afirmou Buffett. Uma frase simples, mas que carrega o peso de décadas de experiência. E é exatamente por reconhecer esse talento em Abel que Buffett se afasta com confiança — não por obrigação, mas por convicção.
Desde 1965, quando assumiu o controle da então combalida Berkshire Hathaway, Buffett construiu um império que vai de seguradoras a ações da Apple. Uma mente que soube enxergar valor onde poucos viam. Mas mesmo as mentes mais brilhantes precisam reconhecer quando é hora de dar espaço. E isso, mais do que qualquer número ou gráfico, talvez seja sua maior lição.
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