Quando me chamaram de volta à Terra
Por Carlos Santos
Eu era apenas uma criança quando comecei a falar, mas junto com as palavras vieram memórias que jamais me abandonaram. Memórias de um lugar que não se parece com nada que exista neste mundo, mas que, paradoxalmente, me preparou para ele.
Recordo com clareza de estar sobre uma pedra branca, envolto por uma atmosfera de paz absoluta. Havia ali um tempo diferente. Uma mulher — não sei se era um espírito, uma guia ou uma mãe de outro plano — se aproximou e disse com doçura: “Chegou a hora de voltar à Terra.” Eu sabia exatamente o que ela queria dizer. Não me pareceu estranho. Era como se eu estivesse apenas retomando um caminho conhecido.
Em seguida, fui banhado com ervas de cheiro, enquanto uma música ancestral era entoada — não me lembro da letra, mas o ritmo ainda vive em mim como um sussurro que visita o silêncio da minha alma. Era um ritual, disso tenho certeza. Um rito de passagem para mais uma travessia.
Após o banho, me levaram até a beira de um poço de luz. À esquerda e à direita, estavam dois seres. Não sabiam o que era pressa. Não havia julgamentos. Eles apenas estavam ali. Olhei para dentro do poço e entendi: era por ali que eu desceria à matéria, à vida terrena, ao nascimento.
Mas antes, com a inocência firme de quem ainda carrega a lucidez da origem, fiz um pedido:
— Eu aceito descer... mas quero acesso às riquezas da Terra. Quero meu dinheiro de volta.
Não sei por que disse isso. Talvez por saber que, em vidas passadas, algo me foi tomado. Ou talvez por intuir que nesta jornada, haveria um propósito ligado à abundância, não apenas material, mas espiritual.
Um dos guardiões acenou positivamente. O outro anotou em um livro. Em seguida, o poço brilhou como um sol líquido. Mergulhei. E nasci.
Depois disso, as lembranças se desfizeram. Cresci como qualquer criança, embora sempre carregando um senso estranho de missão, uma inquietação por algo maior. Hoje, adulto, começo a compreender que aquela memória não foi sonho, nem delírio. Foi um acordo. Um pacto de alma.
Não me interessa convencer ninguém do que vivi. Mas carrego dentro de mim uma certeza: há mais entre o céu e a Terra do que nos ensinaram. E quando alguém ousa lembrar de onde veio, não está desobedecendo — está respondendo ao chamado de sua própria essência.
Hoje, ao contar isso, sinto que não estou traindo nenhum segredo. Pelo contrário: estou honrando o que me foi revelado, com coragem e gratidão. Porque talvez esse seja o verdadeiro tesouro: lembrar de quem somos, de onde viemos, e por que viemos.
E se um dia você sentir que já esteve em outro lugar antes de nascer, que ouviu uma música que não sabe explicar, ou que carrega uma missão que ainda não compreende… confie. Talvez você também tenha sido chamado à beira do poço.
Talvez você também tenha feito um pedido.
Talvez, como eu, você esteja aqui para lembrar.
📦 Box informativo
📚 Você sabia?
Muitas tradições espiritualistas, como o Espiritismo, o Hinduísmo e algumas linhas esotéricas, relatam que antes do nascimento o espírito passa por um planejamento reencarnatório. Algumas escolas descrevem essa preparação como encontros com mentores, revisão de vidas passadas e até experiências simbólicas como descida por feixes de luz, túneis ou portais espirituais. A lembrança espontânea de eventos pré-nascimento é rara, mas documentada em várias culturas — e cada vez mais estudada por psicólogos transpessoais e pesquisadores da consciência.
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