Bolsonaro depõe ao STF sobre golpe: diz que “golpe é abominável”, admite “alternativas dentro da lei” e enfrenta perguntas firmes de Moraes. Análise completa.

 

🏛️ “Golpe é abominável”: o depoimento de Bolsonaro ao STF e as perguntas de Alexandre de Moraes

Por Carlos Santos

No dia 10 de junho de 2025, o ex-presidente Jair Bolsonaro compareceu ao Supremo Tribunal Federal para prestar depoimento no processo que investiga sua suposta participação em uma tentativa de golpe de Estado após a derrota eleitoral em 2022. O interrogatório, conduzido pelo ministro Alexandre de Moraes, gerou momentos marcantes, declarações fortes e recuos estratégicos. A seguir, trazemos uma análise profunda, com transcrições reais, contexto político e implicações para o futuro.



1. O clima do depoimento: defesa virou palanque?

O depoimento teve cerca de duas horas e foi realizado em sessão pública — um marco histórico, já que envolve um ex-presidente sendo questionado por um tribunal civil sobre atos que ferem a democracia. Fontes internacionais como Reuters e AFP destacaram que Bolsonaro, mesmo sob grave acusação, adotou um tom de discurso político, enfatizando suas conquistas ao longo do mandato.


2. “Golpe é abominável”: a frase que marcou

Diante da acusação de articulação para suspender eleições ou intervir militarmente, o ex-presidente disparou:

“Golpe é uma coisa abominável. O golpe até seria fácil começar… mas imprevisível e danoso para todo mundo. O Brasil não poderia passar por uma experiência dessa. E não foi sequer cogitado essa hipótese no meu governo.” 

Essa declaração serviu para reafirmar seu posicionamento oficial: Bolsonaro renega tanto o golpe quanto qualquer envolvimento de sua parte.


3. Moraes ironiza respostas curtas

Em um momento que viralizou, o ministro Alexandre de Moraes provocou o advogado de Bolsonaro:

“O senhor combinou antes?” 

Ele questionou por que a defesa orientava Bolsonaro a responder apenas “sim” ou “não”. Moraes buscava respostas mais profundas sobre pontos-chave, e a provocação sublinhou a tensão entre condução editorial da sessão e formalismo jurídico.


4. “Malucos” e a acusação de incitação

Sobre manifestantes que acamparam pedindo intervenção militar ou AI‑5, Bolsonaro disse:

“Agora têm sempre uns malucos ali que ficam com aquela ideia, de AI‑5, intervenção militar… nós não estimulamos nada de anormal.” 

Apesar do tom de reprovação, o ex-presidente foi cobrado por ter mobilizado apoiadores em acampamentos pró-golpe — ponto levantado por promotores como evidência de um movimento coordenado.


5. A pauta das “alternativas dentro da lei”

Em meio às discussões sobre planos militares ou medidas para prolongar o poder, Bolsonaro admitiu que considerou, brevemente, “alternativas dentro da lei”, mas negou que isso configurasse um golpe. Em suas palavras:

“Admiti explorar formas legais, não institucionais, mas jamais passamos da linha constitucional.” 

Essa nuance revela sua tentativa de se apresentar como agente responsável, deixando margem para interpretações divergentes.


6. Contradições sobre documento e decreto golpista

Intrigante foi o momento em que Bolsonaro refutou ter editado qualquer decreto golpista, em contraponto ao depoimento do ex-ajudante Mauro Cid, que afirmou que Bolsonaro teve papel ativo na edição de minuta que poderia ordenar prisões de ministros, incluindo Moraes.

Bolsonaro respondeu:

“Não procede o enxugamento… vi a minuta, mas eram só ‘considerandos’ exibidos rapidamente.” 

Foi uma tentativa clara de minimizar envolvimento jurídico direto.


7. Questionamentos diretos de Moraes

O ministro Alexandre de Moraes não poupou questionamentos duros:

  • Ao evocar reunião ministerial de 5 de julho de 2022, ele perguntou:

“Qual fundamento concreto para alegar fraude nas urnas?” 

Bolsonaro não deu resposta direta, alegando que apenas citou outros políticos e apontou relatórios de peritos como base.

  • Sobre estado de sítio e reunião militar, Bolsonaro assumiu:

“Tivemos que buscar alternativa na Constituição” 

Mesmo admitindo a discussão, insistiu que não houve decisão ou intenção de violar a lei.


8. Falta de lembrança de Braga Netto

Outra passagem significativa: ao questionar a presença do general Braga Netto numa reunião de 2020, Bolsonaro negou lembrar:

“Nem sei se ele estava lá.”
“Ele estava ao seu lado”, disse Moraes. 

O ministro assim expôs fragilidade na narrativa defensiva do ex-presidente.


9. Desculpas públicas a Moraes

Em tom inesperadamente conciliador, Bolsonaro pediu desculpas pela acusação infundada de corrupção:

“Me desculpem, não tinha intenção de acusar qualquer desvio de conduta. Não há indícios.” 

Esse ato de retratação pública foi visto como estratégia para exibir respeito institucional, ainda que tardia.


10. Contexto político e judicial

Bolsonaro está entre oito réus acusados de tentativa de golpe, organização criminosa, dano ao patrimônio público, abolição do Estado democrático e outras graves acusações 

O processo vem acelerado pelo STF, com depoimentos de militares de alto escalão confirmando discussões, ainda que Bolsonaro critique a condução como perseguição política.

O veredicto deve sair até outubro de 2025, antes das eleições de 2026 


📉 Impactos no cenário político

Este depoimento tem peso duplo:

  • No âmbito jurídico, demonstra diligência judicial — mesmo figuras poderosas são responsabilizadas.

  • No quadro eleitoral, Bolsonaro tenta se reaproximar do eleitorado institucional, posicionando-se como “alinhado à Constituição”, em busca de liberação judicial para disputar em 2026.

O sucessor Luiz Inácio Lula da Silva e o próprio STF observam atentamente, pois qualquer condenação pode reforçar polarização política — ou abrir espaço para anistias propostas por aliados de Bolsonaro.


🧠 Minha análise

Vejo o depoimento como um discurso de sobrevivência política e jurídica. Bolsonaro deixou claro que:

  • Rejeita golpe, mas admite explorar “alternativas constitucionais”

  • Pede desculpas, mas mantém narrativas sobre “fraude e perseguição”

  • Minimiza, mas reconhece reunião com generais

Para ele, o risco é seguir salientado como autor de ruptura democrática — mas com gancho político para manter apoio conservador.

A ressalva: esse depoimento não encerra o caso. Resta ao STF avaliar provas, documentos e depoimentos, antes de decidir a pena ou absolvição.


📦 Você sabia?

É a primeira vez na história do Brasil que um ex-presidente é formalmente interrogado por tribunal civil, sobre tentativa de golpe, incluindo ministros militares — marco institucional e jurídico inédito.

Seu posicionamento mostra uma busca por controle de narrativa e tentativa de reverter a rejeição, especialmente entre moderados e antigos aliados.

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