COP29 em Baku definiu novas metas de financiamento climático e regulamentou mercados de carbono. Saiba o que esperar da COP30 no Brasil.
COP29 em Baku: o que foi definido e por que essa conferência pode moldar o futuro climático do planeta
Por Carlos Santos
Introdução.
Em meio a tensões geopolíticas, crises econômicas e catástrofes climáticas cada vez mais frequentes, a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2024, a COP29, realizada em Baku, Azerbaijão, se tornou um marco na diplomacia ambiental. Realizada entre 11 e 22 de novembro, a conferência reuniu líderes mundiais, cientistas, ONGs e empresários em torno de um objetivo comum: manter viva a meta de limitar o aquecimento global a 1,5 °C, conforme previsto no Acordo de Paris.
Mas o que realmente foi decidido ali? E por que, mesmo diante de críticas, muitos consideram essa COP uma virada de chave? Neste post, vamos mergulhar fundo no que aconteceu em Baku e o que isso representa para o futuro do planeta.
🔍 Zoom na realidade
O cenário político, climático e econômico por trás da COP29
A COP29 aconteceu sob um pano de fundo complexo. O ano de 2024 foi marcado por secas severas na África, enchentes históricas no Sul da Ásia e incêndios florestais recordes no Canadá e no Brasil. Ao mesmo tempo, o cenário geopolítico não ajudava: a guerra na Ucrânia continuava, a tensão entre China e EUA aumentava e o preço do petróleo oscilava perigosamente.
Além disso, a expectativa pela eleição nos EUA em 2024 — com a possibilidade de um retorno de Donald Trump — pressionava os diplomatas a alcançar avanços antes de possíveis retrocessos.
📊 Panorama em números
Tema | Meta/Definição |
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Data e local | 11 a 22 de novembro de 2024, Estádio Olímpico de Baku, Azerbaijão |
Financiamento climático | Triplicação de US$ 100 bi para US$ 300 bi/ano até 2035 |
Meta aspiracional | US$ 1,3 trilhão/ano até 2035 ("Baku to Belém Roadmap") |
Mercado de carbono | Regulamentação completa do Artigo 6 do Acordo de Paris |
Adaptação e perdas | Reforço ao Fundo de Perdas e Danos; novos Planos Nacionais de Adaptação |
💬 O que dizem por aí
Segundo o jornal Financial Times, apesar do cenário adverso, a COP29 conseguiu "segurar a barra" e consolidar um pacote que, embora imperfeito, mantém o ímpeto global. A publicação destacou o chamado "Baku to Belém Roadmap", um plano ambicioso de financiamento climático de longo prazo.
O portal The Guardian afirmou que "a COP29 mostrou que o multilateralismo climático ainda está vivo", ainda que ameaçado por agendas nacionalistas. A crítica principal foi a falta de compromisso vinculativo por parte dos países desenvolvidos, sobretudo EUA e União Europeia.
Já delegações de países em desenvolvimento, como Índia, Nigéria e Cuba, criticaram duramente o valor de US$ 300 bilhões como "insuficiente", diante de estimativas da própria ONU que apontam para a necessidade de ao menos US$ 1 trilhão por ano até 2030 apenas para adaptação.
🧭 Caminhos possíveis
O que ficou decidido na prática?
Vamos aos principais pontos consolidados na COP29:
1. Financiamento climático
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A meta anterior de US$ 100 bilhões/ano foi superada, com novo compromisso de US$ 300 bilhões anuais até 2035.
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Foi criado o plano aspiracional chamado “Baku to Belém Roadmap to $1.3 trillion”, prevendo metas crescentes até 2035, a serem detalhadas na COP30 no Brasil.
2. Mercados de carbono
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Foram finalmente aprovadas as regras para operacionalizar o Artigo 6 do Acordo de Paris, o que permitirá o comércio internacional de créditos de carbono com integridade ambiental.
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Criou-se o Mecanismo de Créditos Paris-alinhados (PACM), com supervisão centralizada para evitar fraudes e duplas contagens.
3. Perdas e danos
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Fortalecimento do Fundo de Perdas e Danos criado na COP27.
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Compromissos para que todos os países tenham seus Planos Nacionais de Adaptação (NPAs) prontos até 2025.
🗺️ Daqui pra onde?
O que esperar da COP30 em Belém?
A COP30 será histórica por dois motivos:
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Será a primeira em território amazônico.
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Terá que consolidar os compromissos financeiros, regular os novos mercados e exigir novos NDCs dos países.
Belém será palco da apresentação dos primeiros Planos de Ação Nacional alinhados ao limite de 1,5 °C, e de uma possível grande reformulação nos mecanismos de monitoramento climático.
🧠 Para pensar…
Será que compromissos não vinculativos são suficientes? O planeta pode continuar apostando em aspirações financeiras enquanto eventos extremos seguem destruindo vidas e economias?
O ponto positivo é que a COP29, mesmo com suas limitações, não retrocedeu. Isso, por si só, já é uma vitória — embora modesta. A pressão sobre os países ricos aumentou, e os mecanismos de mercado agora têm uma régua clara.
O desafio é gigantesco, mas a COP29 mostrou que, mesmo sob pressões, a máquina climática global ainda gira.
📚 Ponto de partida
Para quem quer entender melhor os temas tratados, aqui vão alguns conceitos essenciais discutidos na COP29:
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Artigo 6 do Acordo de Paris: trata da cooperação internacional e comércio de carbono.
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Financiamento climático: fundos destinados a ajudar países em desenvolvimento a lidar com os impactos da mudança do clima.
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Perdas e Danos: mecanismo de compensação financeira por eventos climáticos extremos irreversíveis.
📦 Box informativo
📚 Você sabia?
🔍 O nome COP vem de “Conference of the Parties” (Conferência das Partes), um encontro anual das nações signatárias da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC), iniciada em 1992 no Rio de Janeiro.
📌 A primeira COP foi realizada em Berlim, 1995.
📈 Desde então, as COPs já resultaram no Protocolo de Quioto (1997), no Acordo de Paris (2015) e em diversos mecanismos regulatórios.
🌎 A COP30 será realizada em Belém, no Brasil, entre 10 e 21 de novembro de 2025.
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